Universidade Federal do Ceará
Curso de Letras Espanhol Licenciatura Noturno

O Conselho do Centro de Humanidades vem a público manifestar sua posição com relação ao retorno das atividades presenciais da UFC, previsto para acontecer no dia 16 de março de 2022.

Este Conselho acompanha com preocupação a forma como tem sido conduzido o processo de preparação para o referido retorno. A administração superior da UFC foi provocada nas últimas semanas por entidades estudantis e sindicais e, mais recentemente, por notas de departamentos, entre eles o de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina. A reitoria tem sempre dado uma resposta padrão para essas manifestações: vamos aguardar, estão sendo tomadas as providências: “todas as medidas necessárias para o retorno seguro serão adotadas no tempo oportuno, uma vez que tudo dependerá da evolução da pandemia no Estado e dos desdobramentos da atual onda de contágio do coronavírus”.

Qual evento extraordinário é esperado pela reitoria da UFC nos próximos trinta dias que modificará de forma tão essencial a tomada de decisão com respeito a situações já consolidadas nos dois anos de enfrentamento do coronavírus? O que poderá acontecer nos próximos trinta dias que mude, por exemplo, o entendimento da comunidade científica com relação à vacinação, único método comprovadamente capaz de frear o morticínio do vírus e única arma que tem mostrado ser capaz de desacelerar a propagação da doença em casos graves e, portanto, que deveria nos conduzir à coerente decisão de solicitar de estudantes, servidores técnicos e docentes e usuários externos o comprovante de vacinação no acesso às instalações da UFC, não só para estimular a vacinação, mas para proteger a nossa comunidade?

Hoje, no Estado do Ceará, o referido passaporte vacinal é exigido, conforme decretos estaduais para entrar em academias, restaurantes, bares, estádios de futebol, aviões… A ANVISA, órgão máximo da vigilância sanitária do país, exige para entrada em território nacional o comprovante de vacinação e testes negativos de contaminação pelo vírus. O que mudará nesses trinta dias antes do início do semestre de 2022.1 que não permite já decidirmos sobre
isso? A receita conhecida por todos até aqui tem sido a mesma apontada por especialistas: vacinação, uso de máscaras, limpeza constante de mãos, menor contato possível entre as pessoas, isolamento de casos de contaminação e monitoramento de casos na comunidade.
Na verdade: só temos trinta dias para nos prepararmos ao retorno! Temos estudantes oriundos de outros municípios do Ceará e de outros estados. O que devemos dizer aos nossos estudantes? Eles deverão aguardar até quando para providenciar, por exemplo, moradia em Fortaleza e deslocamento para cá? O protocolo que será seguido pela UFC vai ser diferente em trinta dias das demais entidades do mundo? Em casos de contaminação de estudantes e servidores, o que será feito? Quem deverá ser informado? Haverá disponibilização de testes? Ou em trinta dias a situação da pandemia dispensará o monitoramento de casos e organização para casos assim? Não haverá fornecimento de máscaras? A infraestrutura da universidade está pronta para receber as mais de 40 mil pessoas que fazem parte da sua comunidade? Ao fazer essas indagações, o Conselho do CH não intenciona nem dividir e nem tensionar. O Conselho faz essas indagações porque não temos conhecimento de reuniões nas quais os representantes da comunidade tenham sido informados sobre esses aspectos. Apenas as notícias publicadas no site da universidade.
Segundo a reitoria, “Causa espécie … que um departamento, que responde a uma unidade acadêmica, se arvore de uma competência normativa que não lhe cabe, anunciando, via nota, deliberação sobre um assunto que não é da sua alçada” e que “Toda e qualquer orientação nesse sentido advirá do Comitê Interno de Enfrentamento ao Coronavírus”.
O comitê referido substitui as instâncias superiores da UFC? O CONSUNI não será convocado para deliberar sobre as atividades da universidade? A decisão será tomada pelo comitê e pela reitoria sem consultar a comunidade e seus representantes estatutariamente definidos e constituídos? A decisão não é de um departamento isoladamente, mas é da reitoria sozinha, sem ouvir os conselhos da Universidade? Entendemos que a ausência do diálogo com a comunidade é precisamente o que tem gerado as justas manifestações de preocupação publicadas, fruto das indefinições e da falta de informação a menos de um mês do retorno presencial. A reitoria tomou para si sozinha a
decisão do retorno e como ele ocorrerá, justificando-se na aprovação pelo CEPE do calendário
universitário, sem, contudo, informar e mobilizar a comunidade para tal retorno.

O consenso a respeito do retorno das atividades presenciais e o desejo das pessoas de retomarem essas atividades não significa que estamos mobilizados para esse retorno. Mobilização requer diálogo, cooperação e movimentação de pessoas e recursos em direção a um mesmo fim. Não há mobilização, há notícias publicadas na página da UFC e que se limitam a rebater notas publicadas, sem dar mais informações à comunidade acadêmica.
Para se tranquilizar e se planejar para um retorno seguro, estudantes, técnicos administrativos e professores e as famílias de todos precisam de informações. Adiar essa divulgação apenas gera mais insegurança e ansiedade na comunidade acadêmica, além de criar empecilhos no planejamento das disciplinas e demais atividades acadêmicas e para o próprio retorno presencial.

O Conselho do CH roga, mais uma vez, que a reitoria da UFC convoque o CONSUNI, abra o diálogo com a comunidade e construa junto com ela as bases que nos guiarão no retorno às atividades presenciais.

Nota original: Nota do Conselho do Centro de Humanidades sobre retorno presencial

Fortaleza, 18 de fevereiro de 2022

Conselho do Centro de Humanidades da Universidade Federal do Ceará